3.2. Tecnologia


Em consonância com a Recomendação da CE, o ICP-ANACOM entende que o modelo de custeio de terminação fixa a desenvolver deverá, tanto quanto possível, ser baseado nas tecnologias eficientes disponíveis no horizonte temporal considerado, sugerindo-se que a rede de acesso resulte de uma combinação de tecnologia baseada em cobre e fibra, devendo a rede "core" ser baseada em redes NGN.

3.2.1. Desenho da rede

3.2.2. Demarcação das camadas de rede

3.2.3. Desenho dos nós da rede 


3.2.1. Desenho da rede

  • 3.2.1.1. Rede de acesso a modelar

De acordo com a Recomendação, o ponto de demarcação entre os custos que devem ser associados ao tráfego e os não associados ao tráfego é tipicamente o primeiro ponto de concentração do tráfego. Ainda segundo a Recomendação, "numa rede telefónica pública comutada, esse ponto situar-se-á normalmente a montante do cartão de linhas do concentrador (remoto). O equivalente numa RPG de banda larga é o cartão de linhas do DSLAM/MSAN1".

Nesse sentido, como o objetivo do modelo BU-LRIC é determinar os custos incrementais de longo prazo dos serviços de terminação de voz fixa, é desnecessário modelar a própria rede de acesso do operador, já que o impacto desta no valor da terminação fixa será nulo. Contudo, como referido no ponto 3.1.1, o projeto da rede core estará ligado a uma escolha específica da tecnologia de acesso, pelo que esta deverá ser considerada na medida em que vai definir a tecnologia a ser considerada no primeiro ponto de agregação da rede.

Rede de acesso a modelar

A rede de acesso considerada para efeitos da contabilização do tráfego e do tipo de equipamentos no primeiro ponto de concentração do tráfego é baseada em tecnologia de cobre e fibra, sendo considerada a migração das redes de cobre para redes de nova geração em consonância com as atuais expectativas de evolução a médio e longo prazo.

  • 3.2.1.2. Rede core a modelar

A Recomendação considera que "o modelo de cálculo dos custos deve basear-se nas escolhas tecnológicas eficientes disponíveis no período de tempo considerado pelo modelo, na medida em que possam ser identificadas. Assim, um modelo ascendente elaborado hoje poderá, em princípio, assumir que o núcleo das redes fixas é uma rede de nova geração (RPG)".

Rede core a modelar

De forma a ir ao encontro da Recomendação, será modelada uma arquitetura de rede core baseada em IP BAP2 NGN, garantindo-se simultaneamente a interligação por Time Division Multiplexing (TDM) e Internet Protocol (IP) com outras redes.

  • 3.2.1.3. Rede de transmissão a modelar

A rede de transmissão da rede a modelar poderia ser à partida realizada através de um conjunto de tecnologias alternativas3, sendo que a solução IP/MPLS4 é considerada como sendo a tecnologia atual mais evoluída, apresentando-se como a melhor solução para redes core NGN-IP. No entanto, por forma a garantir que o operador modelado mantenha aderência à realidade nacional e dado o estado atual de transição das redes em Portugal, considera-se oportuno considerar igualmente a existência de SDH5 em algumas partes da rede que ainda não tenham evoluído para a solução IP/MPLS sobre Ethernet.

Rede de transmissão a modelar

O ICP-ANACOM considera que o modelo de custeio de terminação fixa a desenvolver, não obstante procurar repercutir a realidade nacional, terá necessariamente de refletir as opções que um operador hipotético eficiente teria adotado nos últimos anos tendo em vista o desenvolvimento de uma rede baseada em tecnologia atual e eficiente, pelo que se considera modelar uma rede de transmissão IP/MPLS sobre Ethernet6 considerando também IP/MPLS sobre SDH dado que é uma tecnologia ainda em utilização pelos operadores presentes no mercado português. Deste modo o modelo permitirá modular uma rede que opere com as duas tecnologias, permitindo considerar diferentes percentagens de utilização para cada uma delas, por forma a aproximar-se da realidade observável e expectável.

3.2.2. Demarcação das camadas de rede

A Recomendação refere que por defeito, o ponto de demarcação entre os custos associados ao tráfego e os não associados ao tráfego é tipicamente o primeiro ponto de concentração do tráfego. Numa rede telefónica pública comutada, esse ponto situar-se-á normalmente a montante do cartão de linha do DSLAM/MSAN7 localizado nos concentradores (remotos), enquanto no caso de uma rede NGA/GPON estará a montante do cartão de linha OLT8.

Demarcação das camadas de rede

O ICP-ANACOM considera que ponto de demarcação entre os custos relacionados com o tráfego e os custos relacionados com o acesso coincide com o primeiro ponto de concentração do tráfego (figura 4.2 da página 19 do Anexo III "Conceptual approach for the fixed BU-LRIC model")

3.2.3. Desenho dos nós da rede

A modelação de uma rede hipotética de comunicações fixa eficiente envolve a identificação do tipo de equipamentos a instalar, bem como a sua quantidade e localização a qual, para efeitos do modelo de custeio de terminação fixa a desenvolver, deve atender à metodologia expressa na Recomendação da CE, que advoga a adoção de uma metodologia bottom-up baseada em custos incrementais e prospetivos de longo prazo.

As redes de comunicações eletrónicas caracterizam-se por serem sistemas complexos que vão sendo desenvolvidos pelos operadores ao longo do tempo, de forma incremental, sempre que se revele a necessidade da sua adaptação face a eventuais alterações da procura, razão pela qual dificilmente se poderá considerar que as redes atuais se encontram perfeitamente otimizadas.

O desenho de uma rede depende, entre outras coisas, das especificidades do terreno, pelo que nem sempre a localização dos seus elementos é a ideal do ponto de vista teórico. No entanto, considerando que um modelo é uma simplificação da realidade e pretendendo-se que o modelo de custeio de terminação fixa seja, tanto quanto possível, representativo da realidade nacional, a quantificação e qualificação dos diferentes componentes de rede será efetuada por referência à melhor informação disponível sobre as redes fixas nacionais, podendo as mesmas serem objeto de otimização com vista a garantir o necessário equilíbrio entre a procura de eficiência que, à partida, caracterizará um novo entrante e as especificidades e condicionantes nacionais, de algum modo refletidas nas atuais redes fixas. À partida, identificaram-se as opções metodológicas abaixo apresentadas, como passíveis de serem consideradas para efeitos de desenho dos nós da rede. A este respeito ver o documento em anexo III (pág. 20).

Opção 1 - Rede atualmente instalada

A conceção da rede do operador hipotético a modelar, baseada nesta abordagem, consiste em modelar a rede considerando a dimensão e estrutura de um operador fixo real, sem qualquer tipo de ajustamento no que respeita a aspetos relacionados com o número, localização ou o desempenho dos nós da rede.

Opção 2 - Metodologia scorched node

Para efeitos da conceção da rede a modelar, a metodologia scorched node assume a quantidade e a localização física dos diferentes componentes de rede existentes, deixando em aberto as decisões quanto à tecnologia (equipamentos a utilizar em cada uma das localizações e as ligações entre si) no sentido de implementar uma rede otimizada.

Opção 3 - Metodologia scorched node modificada

A metodologia scorched node modificada tem como base a metodologia scorched node, a qual é ajustada, apresentando a mesma topologia de rede existente mas eliminando ineficiências existentes, permitindo a simplificação da hierarquia de comutação, ou alterando a sua funcionalidade e a dos nós da rede.

Opção 4 - Metodologia scorched earth

A metodologia scorched earth determina a configuração de uma rede ideal hipotética estabelecida de raiz com capacidade para a prestação de todos os serviços disponibilizados pelo operador a modelar, assumindo que todos os componentes da rede são variáveis a considerar, isto é, sem constrangimentos relativos à sua configuração ou localização.

O ICP-ANACOM considera que a Opção 1 - Rede atualmente instalada deve ser excluída na medida em que não é plausível que a modelização de um operador hipotético eficiente de comunicações fixas, no âmbito do modelo de custeio de terminação fixa a desenvolver, resultasse numa topologia de rede idêntica, quer a qualquer uma das redes dos operadores fixas designados com PMS, quer a uma rede equivalente à "média" das redes existentes.

Relativamente à Opção 2 - Metodologia scorched node, o ICP-ANACOM considera também que esta opção deve ser excluída, nomeadamente porque esta metodologia muito dificilmente poderia resultar numa configuração de rede otimizada, dado que se baseia na quantidade e na localização dos equipamentos de redes já existentes, os quais têm inerente um legado histórico.

Uma opção mais adequada, passará por, partindo da metodologia scorched node, possibilitar algumas alterações, como a simplificação da hierarquia de comutação e alteração das funcionalidades dos nós, com vista ao aumento de eficiência da rede e, finalmente, reconciliar os resultados obtidos com os elementos fornecidos pelos operadores fixos designados com PMS (Opção 3 - Metodologia scorched node modificada).

Esta Opção 3 equilibra a necessidade de incutir parâmetros de eficiência no modelo em desenvolvimento e a preocupação de garantir que o modelo mantém, tanto quanto possível, a aderência à realidade nacional.

A Opção 4 - Metodologia scorched earth, frequentemente reconhecida em abstrato como a opção que melhor incorpora a noção de eficiência no desenvolvimento deste tipo de modelos é no entanto uma abordagem mais conceptual e teórica, caracterizada por níveis de complexidade elevados no dimensionamento da rede. Neste sentido, por força das suas características, esta aproximação é também a que mais se afasta da realidade, justamente por não considerar diversas condicionantes práticas ao desenvolvimento das redes, como por exemplo: i) condicionantes relacionadas com a dificuldade do trajeto das condutas; ii) dispersão dos aglomerados populacionais; iii) condicionamentos de natureza arquitetónica; e, iv) coexistência de equipamentos de outros operadores na mesma localização com eventual partilha de infraestruturas. Adicionalmente, esta abordagem caracteriza-se por grandes exigências em termos de informação necessária, a qual poderia eventualmente não se encontrar disponível em tempo útil.

Desenho dos nós da rede

Tendo ponderado as opções acima elencadas, o ICP-ANACOM entende que a abordagem descrita na Opção 3 - Metodologia scorched node modificada, é, tal como adotado no caso do modelo de terminação móvel, a abordagem metodológica que melhor equilibra a necessidade de incutir preocupações de eficiência no modelo a desenvolver e não introduzir excessiva complexidade no desenvolvimento prático do modelo. Adicionalmente, esta metodologia permitirá manter, tanto quanto possível, a aderência à realidade nacional, tendo em consideração diversas restrições dos operadores fixos no desenvolvimento das suas redes, como as acima referidas.

Notas
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1 Digital Subscriber Line Access Multiplexer/Multi-Service Access Node.
2 Broadband Access Point.
3 Por exemplo, NG-SDH; Ethernet/WDM; ATM sobre SDH, Micro-ondas STM de ponto a ponto, IP/MPLS sobre SDH e IP/MPLS sobre a Ethernet nativa.
4 Internet Protocol/Multi-Protocol Label Switching.
5 Synchronous Digital Hierarchy.
6 Tipo de rede local (LAN). Também designa o tipo de cabo e o modo de acesso.
7 Digital Subscriber Line Access Multiplexer/Multi-Service Access Node.
8 Optical Line Terminal.