Pandemia de COVID-19 - Impacto na utilização dos serviços de comunicações em 2021



Sumário executivo

Tráfego de comunicações eletrónicas aumentou significativamente devido à pandemia da COVID-19

Em 2020, o tráfego de voz e de dados aumentou significativamente na semana em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia da COVID-19 (11.03.2020), tendo atingido máximos históricos na semana em que entrou em vigor o Estado de Emergência em Portugal (19.03.2020). Nas semanas seguintes, o tráfego iniciou uma trajetória descendente.

No que se refere ao tráfego de voz, este regressou a níveis pré-COVID19 em agosto de 2020, tendo voltado a crescer de forma sustentada a partir do mês de setembro na sequência da declaração dos Estados de Contingência, Calamidade e de Emergência. O tráfego de dados retomou uma trajetória ascendente a partir do mês de julho atingindo em dezembro, nas semanas em que ocorreram feriados e tolerâncias de ponto (06.12.2020 e 13.12.2020), novos máximos históricos.

No início de 2021, com a entrada em vigor do dever geral de recolhimento domiciliário em 15.01.2021 e a posterior suspensão das atividades letivas presenciais, o tráfego de comunicações eletrónicas voltou a crescer, tendo atingido novos picos. O tráfego de dados alcançou mesmo um novo máximo histórico (semana de 07.02.2021).

Nas semanas seguintes o tráfego diminuiu. Com o início do levantamento gradual das medidas restritivas a partir de 15.03.2021, o tráfego de voz estabilizou. O tráfego de dados continuou em queda até à entrada em vigor do Estado de Calamidade (em 01.05.2021). Em dezembro, os feriados, o teletrabalho obrigatório (entre 25.12.2021 e 14.01.2022), e a suspensão das atividades letivas em regime presencial (de 27.12.2021 a 09.01.2022), resultaram num crescimento significativo do tráfego de dados, que ficou 5% acima dos valores contabilizados no mesmo período do ano anterior.

Em 2020 e 2021 o efeito global da COVID-19 foi de +33% no tráfego de dados fixos, +23% no tráfego de voz fixa, +11% no tráfego de voz móvel

O crescimento do tráfego resultou da alteração dos comportamentos de consumo resultantes da pandemia. Verificou-se que:

  • o tráfego médio de dados fixos por acesso aumentou 55,0% em 2020 e 21,3% em 2021, atingindo novos máximos históricos. Estima-se que nos anos de 2020 e 2021 a pandemia tenha tido um efeito global de +33,0% no tráfego médio de dados fixos por acesso. Anualmente, o efeito foi de +32,8% em 2020 e de +32,6% em 2021. Nos trimestres em que se verificaram maiores restrições à mobilidade (2T2020, 4T2020 e 1T2021), o impacto foi de 43,0%;
  • em 2020, a pandemia provocou uma inversão da tendência de queda do tráfego médio de voz fixa, que cresceu 7% face ao ano anterior. Em 2021 diminuiu 12,3% (nos cinco anos anteriores à pandemia tinha-se verificado um decréscimo médio de 13,7% ao ano). Estima-se que nos anos de 2020 e 2021 a pandemia tenha tido um efeito global de +22,7% no tráfego médio de voz fixa por acesso. O efeito da pandemia foi de +21,8% em 2020 e de +23,9% em 2021;
  • o tráfego médio de voz móvel por acesso cresceu 16,5% em 2020 e 2,4% em 2021. O efeito global da COVID-19 sobre o tráfego de voz móvel por acesso foi de +11,1% em 2020 e 2021. Em 2020, o efeito foi de +9,0%, e em 2021 de +6,7%. Os efeitos da pandemia fizeram-se sentir entre o 2T2020 e o 2T2021, aproximando-se posteriormente da tendência anterior;
  • a tendência de diminuição do tráfego de SMS acentuou-se. No 2T2020 e no 1T2021, períodos em que vigoraram o teletrabalho obrigatório e o ensino à distância, o tráfego médio mensal de SMS atingiu os valores mais baixos da última década.

Tráfego médio de dados móveis por acesso cresceu 24% em 2020 e 25% em 2021

No caso do tráfego de dados móveis, não foi possível determinar um efeito específico da pandemia. O consumo médio de Internet móvel por utilizador foi de 4,6 GB em 2020 (+24,0% que em 2019), e de 5,8 GB em 2021 (+25,2% que em 2020). O crescimento verificado durante o período de pandemia poderá ter sido influenciado pelas ofertas promocionais lançadas pelos prestadores de maior dimensão no 2T2020, bem como pela entrada em vigor do Programa Escola Digital, em setembro de 2020, cuja implementação foi acelerada devido à pandemia.

Acessos em local fixo eventualmente influenciados pela COVID-19 nalguns segmentos

O número total de acessos em local fixo não aparenta ter sido afetado pela pandemia. No entanto, em determinados segmentos, identificaram-se eventuais efeitos das medidas excecionais e extraordinárias. De acordo com o INE, a pandemia acelerou a utilização da Internet pelas famílias. A proporção das famílias que utilizam a Internet passou de 80,9% em 2019, para 84,5% em 2020 atingindo 87,3% em 2021. Em 2020 verificou-se o maior incremento anual desde 2016.

Levantamento das restrições levou a crescimento de 5,3% dos acessos móveis em 2021

No caso dos acessos móveis, o número de acessos móveis pós-pagos e híbridos registou uma ligeira diminuição nas primeiras seis semanas de pandemia em 2020. No entanto, em 2021 verificou-se um crescimento de +5,2%, o mais elevado da última década. Esta evolução poderá ter estado associada ao levantamento das restrições à mobilidade associadas à COVID-19. Contudo, não foi possível associar estatisticamente o crescimento verificado aos efeitos da pandemia.

Número de utilizadores de internet móvel cresceu 8,8% em 2021

O número de utilizadores de Internet móvel cresceu 1,8% em 2020 e 8,8% em 2021. De referir que entre 2016 e 2019, registou-se um crescimento médio de +7,7%/ano. Estima-se que nos anos de 2020 e 2021 a pandemia tenha tido um efeito global de -2,3% no número de utilizadores de Internet móvel. Anualmente, o efeito foi de -5,4% em 2020, e de -2,5% em 2021.

Crescimento das chamadas de voz e vídeo pela Internet

De acordo com o INE, a utilização de serviços over-the-top - OTT aumentou de forma significativa em 2020 e 2021, em resultado da pandemia de COVID-19. Destaca-se o aumento da percentagem de indivíduos que utilizaram a Internet para telefonar ou fazer chamadas de vídeo nos últimos três meses, que passou de 53% em 2019, para 71% em 2020 e 80% em 2021. Os crescimentos registados (+18 p.p. em 2020 e +9 p.p. em 2021) foram os mais elevados da última década.

A comunicação com formadores ou professores, com outros formandos ou alunos através de um website ou portal educativo (32%), a frequência de cursos online (24%) e a utilização de serviços bancários - Internet banking (64%) foram outros dos serviços OTT com maior crescimento face ao período pré-COVID (+17 p.p., +16 p.p. e +8 p.p., respetivamente).

Teletrabalho impulsionado pela COVID-19

Em 2020, 33% dos utilizadores de Internet que exerciam uma profissão trabalharam a partir de casa, tendo 31% recorrido às tecnologias de informação e comunicação (TIC) para este efeito. Cerca de 30% atribuiu esta situação à pandemia. Em 2021, entre os utilizadores de Internet que exerciam uma profissão, 22% realizaram a sua atividade profissional em casa, 20% recorreram a TIC para este efeito e 18% trabalharam em casa devido à COVID-19.

Acesso remoto às TIC e cloud computing nas empresas foi impulsionado pela COVID-19

Em 2020, entre 26% e 29% das empresas com 10 ou mais pessoas ao serviço referiram ter aumentado a percentagem de trabalhadores com acesso remoto às TIC (incluindo email), e entre 9% e 10% atribuíram esse aumento à pandemia de COVID-19.

Em 2021, 35% das empresas com 10 ou mais pessoas ao serviço adquiriram serviços de computação em nuvem pela Internet (cloud computing). Tratou-se do maior aumento desde 2014 (mais 6 p.p. que no ano anterior).

A queda do tráfego postal total por efeito da COVID-19 foi menos severa em 2021

O tráfego de serviços postais diminuiu 12,0% em 2020 e 2,9% em 2021. Estima-se que, nos dois anos de pandemia, a COVID-19 tenha tido um impacto negativo de 8,5% no tráfego postal total. Em 2020, o efeito da pandemia foi de -8,8% e em 2021 foi de -7,0%.

Encomendas cresceram 19,5% em 2020 e 14,1% em 2021 devido ao crescimento do comércio eletrónico

Os envios de correspondência diminuíram 14,7% em 2020 e 5,1% em 2021 (em 2019 tinham diminuído 7,5%). Em contraponto, as encomendas aumentaram 19,5% em 2020 e 15,1% em 2021 (em 2019 o aumento foi de 14,1%). Esta evolução foi influenciada pela pandemia de COVID-19, sobretudo em 2020.

Comércio eletrónico com o maior aumento da última década, atingindo 52% em 2021

O comércio eletrónico sofreu o maior aumento dos últimos anos, reflexo do confinamento da população e do encerramento de estabelecimentos comerciais. As circunstâncias decorrentes da pandemia COVID-19 poderão ter tido igualmente reflexos estruturais, no sentido da alteração de hábitos de consumo. Em 2021, cerca de 52% dos indivíduos referiu ter utilizado o comércio eletrónico nos últimos 12 meses (+7 p.p. que em 2020 e + 13 p.p. que em 2019). Em 2021 registou-se o maior aumento da última década.

Pandemia COVID-19 - Impacto na utilização dos serviços de comunicações

Efeitos da pandemia COVID-19 na utilização das comunicações